─ Meu nome é
Saimon. Deveria ser escrito com “i”, mas minha mãe é latina. Não vou contar
minha história, essas coisas são muito chatas.
Uma vez, eu meditava
sobre minha moto através de uma estrada de terra por dentro de uma mata
fechada. Só queria um lugar pra fumar e pensar mais sobre a vida. Do nada,
travei as duas rodas, frenei alguns metros até parar, enfim, envolto duma nuvem
rala de poeira que me alcançara. Eu devia estar em transe, mas não estava. Pensei
comigo mesmo “porque diabos fiz isso?”.
─ Foi quando
encontrou a caverna?
─ Porra, Heitor!
Guenta ai que eu já chego lá. Acho que eu estava com sede.
─ Não era aquele
rio sujo que ladeava a estrada...?
─ Eu não disse
que pretendia beber a água daquele rio, só disse que achava estar com sede.
─ Por que raios
você correu feito um louco pra dentro da mata?
─ Cara, me deixa
contar a história?
─ Por que disse
que se chamava Saimon? Com quem está falando, afinal?
─ Ah! Cara!
Foda-se! Esquece essa história.
Heitor
se levantou da luxuosa poltrona do centro da biblioteca, caminhou até a estante
de livros e retirou um volume grosso de capa preta. Analisou-a por alguns
instantes antes de abri-lo. Surpreendeu-se ao ver que todas as páginas estavam
em branco.
─ Por que é que
imagino que todos os outros livros também estarão em branco?
─ Heitor,
Heitor, Heitor. Sua lógica é curiosa.
Heitor
se dirigiu então até a ampla mesa do escritório, reparou os objetos nela
disposta. Sentou-se na cadeira, balançou-se por algum instante, pensativo. Tomou
na mão a caneta-pincel. Achou curiosa essa coisa tão antiga. Molhou-lhe a ponta
na tinta, se certificando de que funcionaria: fez um x no próprio braço. Separou
para si um papel branco que jazia sobre um montante sobre a mesa e principiou a
rabisca-lo. De um sobressalto, pôs-se de pé, lançando a cadeira para trás: ─
Mas que diabos é isso! ─ exclamou, exaltado. A caneta não marcara o papel. ─ Eu
não... Eu não...
─ Você está
pálido, Heitor.
─ Como saio
daqui?
─ Da mesma forma
como entrou. Mas já quer ir embora?
Heitor
se mostrava confuso. Seu andar era vago, sua mente parecia descrer em tudo.
─ Posso caminhar
por ai?
─ Heitor, isso
aqui não é uma prisão...
─ Mas é a sua
casa!
─ Você acha que
eu moro aqui? Sério mesmo que você acha que eu moro aqui? Não, Heitor, eu
apenas estou aqui. Sei lá se alguém mora aqui. Eu não teria tão péssimo gosto
para decoração.
Heitor
deu-lhe as costas, consternado. Saiu pelo amplo portal de madeira da
biblioteca. Notou estar em uma espécie de casarão, ou mansão. Um palacete. O teto
era extremamente alto. Os móveis eram rústico, em sua grande maioria de
madeira, mas muito bem trabalhados. Carpetes e tapetes. Amplos vitrais que
permitiam a luz do dia adentrar e tornar o ambiente mui claro.
Heitor
desceu as escadas de mármore branco: escada curva, que o levou ao que deveria
ser a sala de estar. Aquele lugar parecia estar vazio, apenas ele e Saimon
presentes.
Achou
a cozinha. Caminhou em direção a pia, tinha sede. Mas a cada passo que dava em
direção a ela, algo na janela parecia o deixar cada vez mais estarrecido. Ao se
aproximar, parecia não crer no que via: um mar de selva. A casa estava de tal
forma alta, que a vista lhe permitia ver a copa de todas as árvores. Apressou-se
então em sair à pequena varanda que havia contígua à cozinha. Apoiando-se no
parapeito, ficou surpreso ao ver a altura que o separava do chão. "Para
onde daria a porta de saída?”, pensou consigo. Correu em direção a ela. Estaria
trancada? Girou a maçaneta. Abriu.
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